Esse é um filme para ser assistido e reassistido, para ser venerado. Para ser sentido.
Primeiro vou falar um pouco do diretor: David Lynch, agricultor, teve uma infância muito difícil. Escolheu seguir carreira como artista. Fazia esculturas, e, com o tempo, se aperfeiçoou. Porém, ele imaginou que com uma arte mais dinâmica ele se expressaria melhor. Começou a fazer curtas. Enquanto isso, sua vida não ia bem. Acabara de ter uma filha e a esposa o deixou sozinho para criá-la. Juntando isso à seu jeito excêntrico de ser, ele criou "Eraserhead". Ou pelo menos, começou.
O trabalho durou nada menos que 5 anos para ser feito! Todo o cenário foi desmontado e remontado várias vezes, principalmente por causa da falta de dinheiro. No final, desses 5 anos de espera, o público detestou o filme. Detestaram tanto que o filme não saiu em DVD na época nem em VHS(o DVD foi lançado a pouco tempo pela Lumen Filmes).Por quê? Pois simplesmente era um filme complexo demais para época. Tanto que os cineastas da época simplesmente amaram o filme, tanto que Stanley Kubrick cogitou a hipótese de deixá-lo entrar no projeto "O Iluminado", que vai ter sua resenha também.
Hoje, o filme é um cult que encanta as pessoas que assistem.
Agora vamos falar do filme: A história é a seguinte: Henry[Jack Nance, que ficou 5 anos com o penteado detestável] vai à casa da namorada para um jantar com os sogros[que são esquisitíssimos]e lá ele logo é avisado que teve um filho mutante[a história do porque deste bebê mutante é bem interessante vou explicar mais na frente], que nasceu prematuro. Ele é obrigado à casar-se com a namorada. Ao ver que realmente as coisas iam de mal a pior, a namorada foge da casa dele, indo morar com os pais. Então ele tem que cuidar sozinho do bebê. Enquanto isso, Henry nutre um desejo louco por sua vizinha, que é prostituta.
O grande forte do filme é sua parte sonora: com pouquíssimos momentos em que a trilha somem, o som desse filme prende a gente, tendo um efeito de "coleira", não deixando nós sairmos do filme. Todos os sons do filme foram meticulosamente escolhidos por Lynch, e te garanto que alguns chegam até a perturbar mais do que as próprias imagens(o choro do bebê permanece na nossa mente por um bom tempo).
Em falar em perturbador, devo ressaltar que na maioria das listas por aí dos 10 filmes mais perturbadores de todos os tempos, sempre paira "Eraserhead", e normalmente em primeiro colocado. E não é exagero das listas.
Tudo no filme é apresentado por metáforas, sendo a formação de uma, ou um produto de outra. Vou explicar: o bebê deformado foi um modo de deixar mais claro que aquilo era um autorretrato. A filha nasceu com uma deformação no pé e sua vida foi bem angustiante após ter que cuidar da filha sozinho. Então Henry na verdade é ele[vejam a semelhança entre as fotos dele e de Henry, abaixo e acima, respectivamente.]
O nome do filme vem de mais uma das cenas "estranhas" do filme: em um sonho, a cabeça de Henry cai e um menino a pega e leva par um homem, que usa-a como matéria-prima para borracha. Bem normal, não? Tudo no filme é estranho: desde a bochechuda assassina de fetos cantando "In Heaven" até a cena final[muito bom, por sinal].
Neste filme já tem a maioria das características que vão compor os outros clássico de Lynch:
- A eletricidade: Nos momentos mais cruciais a algum acontecimento com eletricidade. Exemplos em "Eraserhead": quando ele esta subindo o elevador para o fatídico jantar ou quando ele vê o elevador subindo e descendo por meio do seu gerador, na sua casa. Para Lynch, a luz é o que "clareia" nossa mente, o que nos mostra a verdade.
- Cortinas escuras: Para Lynch, as cortinas "escondem" alguma verdade.
- Algum deformado: O filho e a bochechuda. Ao que parece, Lynch só torna os filmes mais estranhos colocando deformados, que aparentemente não têm uma ligação complementa à história, sem possuir por completo um entrosamento com todo o enredo [O filho é a única exceção que eu já vi].
- Duas mulheres, um loira e outra morena: Para Lynch, as mulheres loiras são puras e santas, mas as morenas são perversas e sujas. Isso é bem claro no triângulo amoroso de "Veludo Azul" e de "Eraserhead", ou no casal de "Cidade Dos Sonhos".
Um dos grandes mistérios deste filme é como o bebê foi criado. Lynch era tão apegado à esses detalhes que ninguém sequer viu o bebê fora das filmagens, obrigando até as pessoas da produção fecharem os olhos enquanto ele passava como o bebê no colo. O mistério perdura até hoje. Até Stanley Kubrick perguntou-o particularmente, porém Lynch não contou. Reza a lenda que o bebê foi desenhado baseado em um feto de vaca.
Infelizmente, o filme não de todo agradável. O final é meio previsível e o roteiro bruto é meio sem-graça. Fora isso, tem também as atuações secundárias, que, apesar de serem muito boas, não são tanto quanto o resto.
Bem, é isso. O filme pode ser perturbador ao extremo, e muito menos deve ser assistido em momentos de depressão, mas dê uma chance à esse filme, por mais que você não goste do gênero...
Recomendado!
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